Entre o olhar e o narguilé na pintura “Fumeuse de Haschisch”

Emile Bernard, Fumeuse de Haschisch, 1900. Óleo sobre tela. Musée d’Orsay.

Fumeuse de Haschisch, de 1900 de Bernard, destaca-se pela representação de uma figura feminina andrógina com um olhar penetrante, instigando-nos a observar detalhes como um marcante anel no nariz e o narguilé para consumo de haxixe. A obra reflete a intrincada rede de discursos sobre arte, raça, gênero, poder e modernidade, em meio às transformações no Egito e na França do final do século XIX.

Ao contrário de suas composições históricas, como Les prostituées, Fumeuse de Haschisch adota uma abordagem mais realista, evocando o estilo de mestres venezianos e ecoando a essência da apresentação de Olympia de Manet. O realismo cria um “efeito fotográfico” que transporta o observador para o momento retratado, desafiando as barreiras temporais.

O olhar direto e a postura desafiadora da figura na pintura, a Fumeuse de Haschisch, resistem à submissão e insinuam uma hibridização que questiona a autoridade colonial. A ambiguidade não apenas enfatiza a complexidade da modernidade e da alteridade, mas também gera um terceiro espaço onde o sujeito, seja homem, mulher, ghawazi ou khawal, interage intrigando espectadores. Na pintura, apesar das influências históricas e artísticas, ela transcende essas mediações, convidando-nos a apreciar plenamente a natureza polifacética daquela contemporaneidade.